quarta-feira, 29 de julho de 2009

Simplicidade

Chegou como chuva de verão, rápida e trazendo aquele cheirinho de terra molhada. A Saudade. Enxarcou minha cabeça de lembranças. E bateu uma vontade que aquele tempo voltasse.
Tocos de árvores trazidos do sítio funcionavam como bancos, cadeiras de fio eram colocadas na calçada e dali a alguns minutos os vizinhos se achegavam, com as suas garrafas de chimarrão, suas crianças e suas conversas embaladas.
Não precisava acabar a energia para que essa cena se repetisse. Era corriqueiro. Ficava pendurada no colo da minha mãe até que ouvia uma gritaria ‘quem quer brincar de pique no ar põe o dedo aqui que já vai fechar e não vai de-mo-rarrrr, tá com você!’ e logo esquecia daquele colo quentinho. Eram compartilhadas histórias, risadas, tristezas e muito amor. Lá a amizade existia.

Naquela rua eu fui feliz, da melhor forma que uma criança poderia ser. Jantava na casa de todos os vizinhos, roubava as flores da velhinha da frente, andava de calcinha e jogava muita areia no cabelo. Ficava na rua até ouvir os berros da minha mãe pra que entrasse. Até entrava, mas aos prantos.

Achei que aquela rua seria meu universo pra sempre. Até que percebi que a Terra também girava pra mim.
Mudei-me e deixei uma parte da minha história lá. Naquela cidade de interior no centro do país onde a simplicidade era a maior das alegrias.

Hoje não janto na minha vizinha, na verdade nem sei nada sobre a vida dela. Não sei do que ela gosta, se tem família , nem mesmo sei seu sobrenome . E talvez nem ela saiba se quem ela cumprimenta é a Annie ou a Stephanie, minha irmã.
Não tenho mais amigos pra brincar de pique no ar e nem rodas de conversas entre vizinhos sem interrupções para ver o jornal.

A maioria dos meus amigos não me ligam mais. Deixam um recado no orkut, no msn ou mandam uma sms. Tenho mais amigos virtuais que reais.
Muitos deles só lembram do meu aniversario porque o orkut os informa. Não posso reclamar, eu também sou assim. Provavelmente não sei o seu aniversário, leitor.

Queria tanto que todos os contatos do meu MSN fossem meus amigos de verdade, daqueles que almoçam na minha casa e batem altos papos com a minha mãe, que caíssem na gargalhada comigo, que tirassem sarro da minha cara e que estivessem presentes pra rodear a mesa do bolo na hora de apagar as velas e bater a foto.

Na verdade o que eu queria mesmo era voltar para aquele tempo, em que não era necessário motivos pra se reunir.
Sinto saudade da Rua Caiçara, lá existia amor nos relacionamentos e as pessoas eram palpáveis.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Abrace



Porque as vezes um abraço é tudo que alguém precisa.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Novo fôlego

Por mais que pedissem para que mergulhasse de colete salva-vidas ela nunca deu ouvidos. Dizia que se era pra descobrir o que havia no fundo, o colete era dispensável, já que limitava a exploração.
Pulou do barco e nadou, até sumir do perímetro delimitado. Gostava de ir além. Era assim em tudo que fazia.
Nadou por águas límpidas e pode enxergar um colorido onde pensava que só existia azul. Sentiu que podia mergulhar mais fundo, e foi. A superfície já não era suficiente. Queria saber se em profundidade existiria uma beleza tal qual encontrara na superfície.
Nadou, mergulhou e afundou. Conseguiu ver peixes de várias espécies, cores de todas as matizes e plantas de diferentes formas. Era um mundo novo. Tão peculiar que parecia ser impossível fazer parte dele.
Quando começou a descer, sentiu o ar rarefeito. A pressão ensurdecia seus ouvidos e decidiu que não teria fôlego suficiente para prosseguir. Decidiu abandonar o mergulho e voltar para embarcação.
Descansou,
descansou e
descansou.
Então, pegou um cilindro de oxigênio, colocou nas costas e voltou para água.
Dessa vez irá mais fundo e conhecerá novos mundos, que mereçam ser desvendados por ela.



quarta-feira, 1 de julho de 2009

Broto de feijão

Bastava um algodão umedecido em água e um grão de feijão para que, daqui alguns dias, eu pudesse vê-lo germinar. Quando o grão rompia e o caule aparecia, era uma alegria só. Depois de alcançado um tamanho suficiente, enterrava-o.

A partir desse dia, entendi a tal da lei da semeadura. Plantei muitos outros grãos. Alguns germinaram, outros morreram em cima do algodão seco.
Também vi várias outras formas de cultivo. Uma delas foi a plantação da inveja.
E por mais paradoxal que pareça, acredite, ela dá frutos. Podres, mas dá.
Os que plantam o amor colhem frutos quase sempre tardiamente, mas sempre suculentos.
O invejoso trabalha em cima da rotação de culturas. Aproveitando o terreno, ele planta a intriga, o egoísmo, a dúvida, injetando da forma mais sutil possível tais sentimentos nos corações alheios. E vai se alastrando como tiririca em gramado. Quando percebe [se é que percebe], está tomado por ela.

Depois de sofrer um pouco com a inveja, parei pra pensar o porquê desse sentimento brotar em alguém. Cheguei a uma conclusão: o invejoso não acredita em si mesmo. Ele acha que a outra pessoa é de alguma forma, melhor do que ele. Seja por características pessoais ou materiais. Insatisfeito com a sua mediocridade, ele busca adeptos.
Até consegue terras férteis, mas na hora da tempestade, só lhe resta seu próprio vento.
Mesmo o amor estando depreciado, eu insisto nessa monocultura. E se gerar um fruto sequer, já valeu a safra.

“O coração com saúde é a vida da carne, mas a inveja é a podridão dos ossos.”

[Pv. 14:30]