quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crônica


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Não foi por acaso que ele estava ali, muito menos por conveniência. Foi apenas pelo fato de estarem inseridos no mesmo ambiente e dividirem a mesma realidade. Talvez se ela estivesse em outro estado, encontraria outra pessoa que despertaria nela os mesmos sentimentos.
Por este motivo ela não acreditava que ele era o único por quem se interessaria, mas sabia que naquele momento era ele quem perturbava os seus pensamentos.

Sempre muito pé no chão (enterrados, na verdade) fingiu não notar o interesse do rapaz e nem criar qualquer expectativa. Ele entretanto, a observara e podia descrever, com detalhes minuciosos, toda a movimentação da moça, desde os dez minutos em que dividiram o mesmo espaço.

Como já se conheciam de um aniversário de um amigo em comum, começaram a conversar sobre assuntos triviais: tempo, faculdade, amigos em comum, família. A conversa se estendia e se aprofundava, até que o rapaz perguntou sobre os relacionamentos amorosos da moça.
Ela desconversou, ruborizou as bochechas e saiu pela tangente.
E ele insistia. Com persistência, colheu informações suficientes para começar de novo e instigar novas respostas.

Depois de experiências frustradas, ambos deram-se oportunidades.
Oportunidade de desfrutar de um sentimento que os tornaram bobos, infantis, idiotas, mas únicos. A tal da Paixão.
Agora eles estão com outros objetivos: tranformá-la em Amor.
O mais bobo de todos, se assim for possível.

♥ ♥ ♥

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cobrança

É incrível como as pessoas têm o dom de concentrar-se na vida alheia.
Não contentes, precisam alimentar-se do reflexo do outro, já que não conseguem ser o próprio espelho.

Num desses fins de tarde, no meu momento filosófico, sentei na sacada olhando pro nada e pensei: “Isso não vai acabar nunca?” E eu mesma concluí : “– Não! Pelo menos enquanto existir pessoas!” Isso. Mas isso o que?
A cobrança.
Numa linha cronológica e num ciclo vicioso ela sempre existirá, quer ver só?

Logo na idade pré-escolar seus pais lhe cobram um desempenho escolar acima do vermelho. Então, empenha-se todo o esforço e colecionam-se notas azuis.

Caminhando no tempo, chega a fase do vestibular, e antes mesmo de você decidir uma profissão já chove perguntas do tipo: já decidiu que carreira seguirá?
Escolhida a profissão, graduada e com o diploma na mão, as interrogações voltam: E agora que você se formou, vai trabalhar onde?

Concomitantemente ao lado profissional, o namoro vai de vento em polpa...até surgir :
“-Noooossa, faz tempo que vocês estão juntos né? Pretendem se casar quando?”
Casada, alguém solta: “- Já tá na hora de ter um bebê, está nos planos do casal?”
Comemorado os 3 anos do(a) garoto(a), aparece a pergunta: “- Não vão ter outro? Ele precisa de um amiguinho.”
Os filhos crescem e são colocados na escola.
O trabalho continua e as perguntas também: Quando você se aposenta?
Aposentado(a), filhos criados e vida estável, só falta lhe perguntar:
Quando você vai morrer?

É claro que existem pessoas que se preocupam com a sua felicidade e querem se sentir participantes dela. Ótimo.
Mas...será que ser feliz é uma obrigação?
E se ela, a tal felicidade, não for alcançada? Serei cobrada por isso?

Não me preocupo em ter respostas pra todas as perguntas, mas quero poder sentar na sacada daqui alguns anos e sentir a felicidade pulsando dentro de mim, sem cobrar pra estar ali, silenciosa, viva e principalmente sem perguntas.