quinta-feira, 4 de março de 2010

A Saudade


Ela chega em um dia qualquer, em um momento qualquer e te toma de forma inesperada.
Sacode-te e deixa espalhar lembranças como o vento faz com as folhas das copas antes da tempestade. Toma conta dos seus sentidos e vasculha sua memória resgatando cheiros, perfumes, imagens, vozes e sensações há muito tempo esquecidas.
O aroma do café, o perfume de alguém, um rosto conhecido, um lugar, uma gargalhada engraçada, uma expressão facial, uma música que te transporta, uma foto, um abraço, uma voz.
É magnífico o modo como as conexões neuronais se inter-relacionam, de forma a levá-lo a uma sensação já vivida em fração de segundos.
Revive-se dentro deste instante, momentos eternizados na memória.

Incontáveis são os meus momentos e pra cada um deles há uma lágrima derramada, seja ela de tristeza, seja de alegria.
Sinto falta de pessoas, de lugares, de risadas e principalmente de demonstrações de afeto.
Falta de relacionamentos mais sinceros, mais desinteressados e mais humanos.
Falta de conselhos sábios, de uma mão acolhedora, de um olhar compadecido e desesperadamente de uma sociedade menos umbilical.
Também sinto saudade daquele que não conheço, daquele que não sei quando nos encontraremos, mas que há muito tempo...já me faz falta.

Sinto falta da minha melhor parte que se perdeu, aquela que despertava espontaneamente, que não tinha vergonha, que mostrava língua para o medo. Aquela parte que ria de si mesma, que se emocionava com filmes bobos, que era desprendida de olhares acusadores, que se auto-regenerava após a frustração e renascia com mais força.

Mas viver só de saudade também não faz bem, porque ela te consome e vai minando seu desejo por outras novas sensações, aquelas que você ainda não viveu.

Talvez a nostalgia seja mesmo um caminho largo, mas quanto mais largo, mais gente posso levar comigo, e assim, mato um pouquinho a minha saudade.