quinta-feira, 15 de julho de 2010

Bobo


Uma mecha desprendeu-se detrás da orelha da moça. O rapaz tímido apressou-se em recolocá-la no lugar, antes mesmo que ela notasse os fios dispersos a enroscar em seus lábios.

Ele já a pesquisara por semanas, sabia interpretar suas feições e era capaz de enxergar a ruga que se formava em sua testa quando a notava preocupada. Ele não era do tipo comum, mas era exatamente isso que a atraia. O mistério, o conteúdo não deixado a mostra na vitrine.
Não gostava de padrões, interessava-se por aquilo que não era óbvio e adorava o jeito acanhado com que a cortejava, ruborizado, sem saber ao certo onde colocar as mãos quando em sua presença.

Era bobo ao convidá-la pra sair, ao entregar-lhe os lírios mais desabrochados num dia qualquer, ao gaguejar quando ficava nervoso, ao achá-la linda mesmo usando uma Hering e um jeans surrado, ao deixar bilhetes com os recados mais doces que já lera, ao dançar todo descompassado e ao tentar demonstrar todo aquele desejo de estar o máximo de tempo possível ao lado dela.

A moça foi incapaz de manter-se indiferente aquela novidade que a capturara. Sentiu-se prestes a encaixar-se na parte de si que andava desgarrada. Não pode conter-se, mesmo que a decisão implicasse em ferir seu instinto auto-protetor, prometido repetidas vezes não ser quebrado.

A forma com que sua cabeça encontrava o ombro do rapaz, seus dedos finos e delicados entrelaçando-se aos dele, sua cintura sendo contornada pelo pouso preciso das mãos do moço e suas idéias e convicções fundindo-se as dele a fez perceber que o encaixe era preciso, tal como peças de quebra- cabeça, únicas, se encaixando com tamanha precisão.

Ela sentiu paz e deu-se conta de que ele não era qualquer rapaz .

Era bobo.



E era dessa bobeira que ela tanto precisava.